Até no desterro me tentam!
Expletivo inicial:
Há quem me chame implicativo...eu prefiro cioso....!
Há quem diga que tenho má língua...eu prefiro dotado de acutilante sentido crítico...
Seja como for.... não me lixem....não me provoquem....
Não me desequilibrem o Chi!!!!
Tomo I:
Suspira-me a Hydra-mãe ao telefone um desejo ímpeto por pizza...até aqui tudo bem...a César o que é de César e à Hydra-mãe o que dela é...Confessa-me ela o salivar insípido que lhe advém do pensamento do agridoce cruzado a ananás e fiambre nas papilas...
Ora não sendo ela tão fina flor culinária aqui como o filho, que domina a arte de fazer pizzas e muito bem, diga-se en passant (gaba-te cesto...)...aligeiro-lhe o conselho da Telepizza...!
Sugestão aceite leve e afoitadamente e ainda me roga a madre ao telefone que lhe seja EU a encomendar a pizza....não sem antes de me pespegar de fio a pavio tal e qual como a pizza do desejo lhe deveria ser entregue...
Hydra-mãe que até ao longe me exasperas a cútis!
Tomo II:
Contrafeito pelo indizível da situação....e a 1000 milhas de distância da Telepizza mais próxima, ligo o Skype, e digito o número facultado pelo google...
Prossegue o toque do telefonar.. conserto o microfone no colarinho...ajeito a poupa ao compasso do toque...coço o canto direito da boca e aguardo em linha...enquanto o enfado da situação em que me meti me acomete e desconcerta...
Num ápice, atende-me do outro lado uma voz elevada e enérgica como se estivesse charrada com chamon e bebida em Perignon....e perfura-me os tímpanos com:
- Telepizza, boa noitJe, fala Fabíola, em que posso ajudar...
Apatetei-me momentaneamente, como quem se engana no número e esquadrinhei o Skype na vã confirmação de que tinha digitado o 00351 de Portugal....
Simultaneamente ao bater da realidade, e naquele vórtice de silêncio feito no vácuo da ligação, juro que ouvi a tal árvore do Confúcio cair no bosque onde não está ninguém...
- Oi? – Volta-me a incauta Brasileira na linha!
“Deus me ajude e me dê calma neste vale de provocação....!” – Pensei eu de pupilas coladas ao céu das órbitas, no micro-segundo que me separou da minha fala...
Ainda não tinha eu feito o ponto final da praxe que se segue a descrição do pedido minucioso...e atalha-me a Fabíola com uma pergunta, que possivelmente lhe provocará 10 anos de psicoterapia:
- ‘Ocê tem cadastro?
Estaquei apático-estúpido com a indagação, e apesar de tantos anos de convivência com o Rubens de Falco e a Suzana Vieira que me esclareceram ao teor da pergunta, optei ligeiro e Português pelo retorno estafermo e implicativo e retruquei mavioso:
- Sim tenho! 2 anos em Caxias e 6 meses de estágio no Linhó!É pouco tempo eu sei...saí por bom comportamento! Ah claro mais os 4 anos de exílio em França...ai o Regime...tss tss!
- ‘Ocê está falando o quê senhor! – Retorta-me no gerúndio, desconhecendo que tal tempo verbal ainda me acirra mais a psique!!!!
- Eu estou a falar Português!!!! E você? – Respondo natural com garbo do alto do padrão dos descobrimentos...
- Mas‘ocê quer uma pizza? – Desvia-me a rapariga o diálogo, mais confusa que a Lena d’Água no jogo do galo...
- Sim queria, você é que perguntou soubre a minha vida presidiária! – E descanso os cotovelos na mesa suportando as costas tensas do subterfúgio, apoiando o queixo nas costas das mãos entrelaçadas...
Tomo III:
(...) Entretanto achei por bem esclarecê-la, pobre alma luso-brasileira no limiar das fronteiras nacionalistas, da diferença entre os significados díspares da palavra “cadastro” nos dois Países...
Desordenada nos pensamentos e equivocada na viva voz, desculpa-se a Fabíola pseudo-esclarecida pela minha explicação enobrecida e avança:
- Peço desculpa senhor, sou nova aqui, ainda não tive formação! A culpa é do meu gerente! – sacudindo a água do capote!
De arma verbal em riste na língua replico:
- O seu gerente chama-se Pedro Álvares Cabral?
- Não! – Tímida e leve na resposta!
- Então a culpa não é dele!!!!!
Tomo IV:
Que seja óbvio que nada tenho contra de quem de outra nacionalidade é....sou é Patriota na minha língua, e no meu País EXIJO que não se malsine aquilo que de mais precioso e nosso é!