Contexto: Ontem, numa senda de gulodice e movido na mira de uma repetição calórica desenfreada, anuí ao encontro com uma grande amiga nos Pastéis de Belém! (Ai a metonímia tã' linda!)
No local do encontro marcado, deparo-me com a minha amiga, acompanhada de uma colega, que eu nunca tinha visto nem sequer conhecia...chamava-se C!
Ora a C é uma simpática e sorridente rapariga, portadora de um volumoso e assaz notório acrescento feminino estrutural.... vulgo, um valente peito pára-choques-chaimite...
É aqui que tudo me começa a correr menos bem ... E numa fracção de segundos o seguinte atabalhoado ocorre:
O meu olhar esgazeado de espanto perante as avultadas realidades orbiculares tornou-se custoso de disfarçar....e fingi um cisco numa vista, levando os dedos direitos às pálpebras dextras no intuito de disfarçar o mau momento facial....E a atrapalhação gerada empurrou-me fora dos eixos da normalidade educativa e saí-me com:
-Então? Tudo em cima?...
...E ao mesmo tempo, talvez sugestionado pelo meu descabido comentário, desci o meu olhar ao nível dos peitos da C e estaquei a voz...
O silêncio originado pela má frase apregoada e o concomitante mau vector direccional ocupado pela minha vista, rebateu-me à realidade....cerrei os olhos a meio, abri a boca de lábios fechados e pedi perdão à minha amiga com um olhar fugidio e um suspiro irmão...
Entrámos....
Achei por bem, seguir na rectaguarda!...Números, tecidos, suportes e dores de costas atascavam-me o pensamento...
Escolhemos o local mais feng shui ao episódio gastronómico e sentámo-nos....fizémos então os pedidos...
Para não adensar mais à inicial e indelével impressão de frenação mental por mim ocasionada...limitei-me a sorrir que nem um cãozinho de louça, enquanto as duas raparigas rematavam a conversa que tinham vindo a ter....
Nisto, o tfone da minha amiga toca...no visor algo que a transtorna e num ímpeto, indica que precisa atender....que vai demorar....e ordena que comecemos a faina nutritiva sem ela...
Vi-a desaparecer com desespero meu no dobrar da quina...pois o terror de engonhar conversa e sala com a C, tinha tomado proporções equivalentes à do seu peito...
Sugeri o ínicio...e alcancei um pastel de nata...na esperança de mastigar devagar...e assim me conter a maior atrapalho...
A C, metodicamente ordenou os 4 pastéis de nata pedidos...e começou o enfeito dos mesmos com: nada, açucar, canela e finalmente açucar e canela....enquanto me ia descrevendo o porquê daquela estratégia de sabores....
Ao que eu sorria de boca cheia e emitia um sim por movimentos...
A C, abrange o primeiro pastel...e degusta-o....
É aqui que tudo me começa a correr ainda pior ...
Com o trincar inicial praseiroso do dito, fracções da massa exterior estaladiça quebraram e cairam-lhe no decote...e mais se lhes adicionaram por vertiginosa queda com a continuada mastigação...e o montante de flocos somava e seguia "naquele vale V com vista desafogada até ao riacho"....
Nisto comecei a corar....a corar como qualquer inocente atrapalhado, acusado do mais inverosímil crime...corei e esforcei-me por manter o meu olhar longe daquele nadir...
Um esgar inquiridor de C acerca da minha nova cor adquirida, foi prontamente deflectido com um som de mastigar idílico...
Segue-se-lhe o 2ndo pastel....e mais o 3ro....e o efeito plataforma formado pela anatomia dos apêndices acumulhava-lhe cada vez mais fragmentos de massa, na prateleira inata abaixo do queixo....Quanto mais ali caía, mais eu fazia por me perder nos contornos do tecto...
Acabou o 4to pastel, e o limpar final dos lábios saciados adicionou mais açucar e canela ao monte reunido na sua concavidade natural...
Engasguei-me de tão desconfortável....e corei ainda mais...A C, indagava-me de boca fechada...
....
Naquele ponto, não me consegui segurar mais...o esforço sobrenatural para não mencionar o acaso nem o sítio do acaso...caiu por terra....e proferi com toda a educação que me havia falhado desde este início....e encetei com rigor científico...
- Sabes C, conheces o conceito da gravidade....e o conceito superfície que se interpõe à queda livre de um objecto?
A C, continuando de cabeça baixa, soergue apenas o olhar, mantendo a expressão inalterada...e diz que não....nem percebe a minha frase vinda do nada....
Para completar o meu discurso....aponto-lhe para o amplo V...enquanto escarlate me furto ao momento, olhando para a esquina da sala, na debalde esperança de ver assomar a minha amiga em meu salvamento...
A C, olha com dificuldade para baixo....e exclama....
- Oh...Pfff....isto é a história da minha vida....!!! Migalhas nas mamas!!!!
E num desabafo de descompressão quasi-infantil expeli sem consciência:
- Pois pudera....!!! E se lá caísse um pastel, aposto que nem notavas...! - Triste epitáfio o meu e o desta minha noite...
Epítome: ...a certeza de que não fiz uma GRANDE amiga...percorreu-me...