Odeio o Harry Potter...vi o último filme dele, e não sei o que me irritou mais, se as 2 horas de vida que não verei de volta, ou a pessegada de história, personagens and soyon...de mim a JKRowling nunca viu um penny!
E não há ninguém que dê uma trancada à Hermione? E terapia da fala ao ruivo? Enfim....
Vinha no metro hoje, fitado no horizonte Alpino...a ver as nuvens a viajar em modo Lorentz à direcção das carruagens...e vinha semi-agarrado ao "pau" anexo à porta, com dois dedos apenas, o suficiente para me manter o equilíbrio enquanto o metro cavalgava carril afora...
Estava particularmente encrespada a viagem, já que o metro oscilava furiosamente em certos trajectos como se quisesse saltar fora dos rodados...
Mas eu, gracas a minha extensa formação Bolshoi, continuava suspenso pelos meus dois dedinhos ao pau, e por sucessivas rotações de calcanhares que me mantinham hirto ao plano e vencedor à agitação frenética da carruagem!
Ora vogando enfunado a tumulta, digno qual S. Rafael, observo que numa paragem, no meio do tropel entra uma mulher mais alta que eu....e que dada a falta de lugares sentados, se ampara contra a rectaguarda do metro, mesmo a 45 graus da minha viseira.
Chamou-me a atenção a altura da sujeita, mais o wedjat (ver figura 1) suspenso e oscilante hipnótico ao pescoço que trazia....
Ora volta e meia, e aproveitando a moção emprestada ao vagão, lá eu me permitia deslizar um bocadinho mais na direcção da sujeita, e encarar o wedjat que lhe pendia no torso...eis senão quando, num movimento mais brusco de um solavanco, o pingente se lhe aninha no vale dos reis ...do vale, nada que tapasse o sol às múmias, mas também não as deixava completamente fototrópicas...
E aqui começa a vergonha da minha família!
Por mais que tentasse travar a satisfação óptica do momento, a minha vista invariavelmente encontrava o caminho de regresso ao peito da dita! Quem me topasse de longe, jamais iria imaginar que o motivo inicial da curiosidade seria o wedjat, e que agora era o fruto proibido que me impelia ao momento....
Era a Abertura 1812 para os pobres...a cada disparo de canhão das sacudidelas da carruagem, lá iam os meus olhos em compasso da nota, na direcção das mamas da senhora....
E quando eu achava que isto não podia piorar....e que a vergonha não podia ser maior....numa curva furiosa e tremida do transporte, os meus dois dedos de suporte cederam, e a minha rotação Nureyev atirou-me headlong de encontro ao wedjat alheio, e ao nível da minha cara graças à altura da senhora...e aterrei com o nariz no meio das protuberâncias mamilares...
Procurei anteparo...senti-me subir na escala de Celsius, levei a mão à cara e aconcheguei os óculos que não uso....balbuciei uma anglofrancofonia indecifrável, suspirei um "fod*-se"....e encarei-a com acanhamento...subi o lábio superior como se me faltasse um gene ou dois...e arrisquei macarrónico:
- Croyez-vous au destin, peut-être?
E num olhar nefer-autoritário....ela responde-me...do alto lá da pirâmide....
- Pas avec les hommes! - e produz um esgar Jodie Fosteriano, impávido e emotionless...
- Oh!....retruco eu desavagando a cara, num misto de surpresa e medo e algum alívio, já que se ela tivesse dito que sim, eu não saberia como descalçar aquela bota que com tanta volúpia tinha encaixado no pé...
Contorço-me qual artista Mongol e ainda arrisco:
-Toute façon, c'est un beau wedjat!
- En effet!- volveu voluptuosa e desta vez sorridente....
Saí do metro, assim que pude, num misto de vergonha pelo momento e imenso contentamento pela capacidade de diálogo em Francês improvisada...
Ja vos disse que odeio o Harry Potter?
Figura 1 - Wedjat (Sem o peito!)