segunda-feira, fevereiro 08, 2010

"Message in a bottle" ou vou mijá mas vorto!

Versão Hydrargirum:

Saí alvoroçado na humedecida penumbra e cheguei ao destino excessivamente atempado...a alvorada ainda muito ao longe...o breu circundante e encanecido era perfurado por laivos pálidos de um contabescido amanhecer a tentar vingar...

Cheguei tão estupidamente cedo que perante a tamanha sessão de espera à minha frente pus as mãos no volante e expirei contristado:

- Car@lhos ma fod*m e mais à pressa com que saí de casa!

O alvor ronceiro lá foi subjugando a desditosa escuridão e os primeiros raios de sol cairam troposfera abaixo...o mundo foi também acordando...e o corropio matinal das pessoas em múltiplas direcções foi-se fazendo sentir...e eu, dentro do carro...a morrer de tédio...à espera...e sem poder sair...

Nisto, uma ténue pressão no baixo ventre, cortou o fastio da demora...sobressaltei e engoli em seco perante o prenúncio. Vem aí uma vontade de fazer chichi...identifiquei em calores!

Qual canito abandonado, encostei a cabeça à janela e salivei o vidro de terror entre guinchos ao constatar que mesmo que pudesse sair do carro, não havia nada aberto ao meu redor onde pudesse ir mictar...! O pânico foi aumentando e o volume na bexiga também...

O afã matinal era tal por esta hora, que me coibi de sair do carro e mictar à volta deste!

(...)

A situação atingiu um apogeu tal que me contorcia no assento num misto de suores frios perante a rebentabilidade da bexiga. Não estava a aguentar...estava por demais sobrelotado e periclitante numa gotinha...

Desvario o olhar multíplice qual camaleão em todas as direcções numa vã tentativa de distracção...No meio do corropio e da sessão de contorcionismo prendo o olhar numa garrafa de água por estrear perdida a um canto da porta...franzo o sobrolho e:

- Oh meu Deus...ocorrer-me-á mictar para dentro da garrafa? - Arriscou o meu pensamento tíbio.

O sofrimento era nímio e soçobrei à vontade...urgia-se mijar no receptáculo!!!!

Abro a garrafa e preparo-me para a esvaziar na rua...mas a pena que me deu o desperdício forçou-me a beber a água...(isto só a mim!...A sofrer e conscencioso!)...e assim comecei...

Era a água a entrar por cima...e a pressão a exponenciar por baixo...cada trago era acompanhado de um ai...cada deglutir, de uma contracção dolorosa pélvica.

Não me detive e continuei a emborcar...Bebi e sofri...mas hydratei-me!

Assim que esvaziei a garrafa...cheguei-me o mais que pude à frente do assento e soergui-me...saquei do pene para fora...assumi uma posição pré-coital à garrafa...apontei com decoro ao gargalo e comecei o esguicho....

Esguicho esse que foi espichando em stacatto pois a pressão nos glúteos e o controlo mental requerido para agarrar a garrafa, endireitá-la...agarrar o falo e apontá-lo sem falha e evitar a largada de um pingo no assento...era assoberbante. Mais o stress de ter que travar a bisnaga ocasionalmente e olhar em redor, não fosse alguém estar a ver e a rebarbar com tudo isto!

Agradeci veemente às alturas, pelo volume da garrafa ser superior ao volume do mictado...pois um transbordo teria sido a morte do artista!

Suspirei de alívio...a garrafa quentinha...e nem uma gotinha desperdiçada!


Versão Eça de Queirós:

A garrafa que Hydra viera a abrir naquela manhã de Inverno em Lisboa era de plástico normal, de silhueta recurvada e contornada por sulcos. A tampa azul quando rodada fazia ouvir o estilhaçar do material, decerto evocando a alusiva história de guerra marchetada no brasão do fabricante. O seu interior translúcido foi primeiramente ingerido de vontade contrafeita em goles contrariados para vagar volume à urea porvir. Hydra, nesse instante, enquanto sentado, naquele banco talhado dos mais finos materiais negros Franceses, bordados ao redor por mãos cândidas e experientes e debruados com uma ligeira tarja acinzentada acetinada profere:

- Très chic!

Descobre de seguida o varão que transporta e apontando ao estreito do gargalo, que cintilando à luz como um diamante no pesçoco alvo de uma donzela na côrte, recebe o expelido e avoluma em tons topázio.


Versão José de Saramago:

hydra resolveu fazer chichi numa garrafa que encontrou dentro do carro Espera lá pensou ele de garrafa na mão e falo pendente ao acaso Será que o meu acto mictório neste Interior é passível de me libertar a Alma ainda exortou no meio da ansiedade assim sendo bebeu a água infausta e finalmente lá mictou para que mais tarde a Memória do mictado passado lhe provocasse um sorriso inusitado pela aventura aquática Só a mim redarguiu por fim


Versão Margarida Rebelo Pinto:

Estava dentro do carro e estava aflito para fazer chichi. Estou fo... como diz uma amiga minha. Não podia sair. Vi uma garrafa de água e pensei, uma vez que não há coincidências, que podia esvaziar a garrafa e depois mijar lá para dentro. Assim fiz e regozijei no desporto aquático. Aliás, fazer chichi ali ou não, eu ia fazê-lo de qualquer maneira.

20 Reacções:

pirata disse...

Isto está brilhante... mais que brilhante!!!! A versao Margarida Rebelo Pinto tá lindaaaaa!!! HA HA HA Mas que gargalhada tao grande =)

PaLaH disse...

Se o livro fosse baseado neste post seria tão mais interessante!

Genial :op

Anónimo disse...

Isto não são horas de me pôres a rir à gargalhada :D

aurora disse...

lol :) quando decidires publicar um livro, avisa :) é bom vir espreitar o teu bloguinho antes de ir trabalhar :D

Angelo disse...

Versão Chelas:
Aquele gajo estava à rasca. Pegou numa garrafa que tinha para lá, tirou a pila para fora e mijou. Tá-se bem!

Tu, gajo, és brilhante!

Spirit disse...

Já me dói as costas de tanto rir :D

Brilhantes textos, nem sei qual escolher para "o melhor".

Snl disse...

A versão Eça de Queirós escavaca! lol

Mas quem é que nunca mijou numa garrafa? Toda a gente! A descrever a situação é que não há quem te chegue aos calcanhares! Este texto é HydraTANTE

Broken Horn(y) disse...

Epa, ja nao me ria assim tanto pela manhã...faz algum tempo.
O relato esta simplesmente fantastico.

Ja pensaste fazer isso...mas relatado pelo gabriel alves?

hahahaha

abraço.

Kapikua disse...

Hehehehehe!

A melhor versão é a tua.

Mais uma estória daquelas que só a ti pode acontecer!

Grande abraço ó Hydra, regressaste numa forma impressionante

Ruca! disse...

ahahah, fortíssimo.
tb o fiz uma vez, em puto, que não queria perder uma pitada do macgyver. a minha mãe não perdoou, tb pq nunca foi grande fã do mac.

João Roque disse...

Uma delícia!
E digo-te que a versão Hydra não fica atrás das versões mais conhecidas: estas são perfeitamente adequadas ao perfil de quem as escreveria: os retoques preciosos de Eça, a escrita agreste e vulcânica de Saramago e a idiotice palerma da Margarida.
Perfeito! Brilhante! Antológico!

Individual(mente) disse...

Moral da história: Convém mijar antes de sair de casa...

FigueiRita disse...

Não estou em mim.... Tu fizeste isto?!?!? Ahhhhhhhh.... Como é possível Hydra?!?
Gosto tanto da tua escrita. :-)
Amo o teu sentido de humor.
Beijo-te

Anónimo disse...

Hydra, sem dúvida o teu melhor post!! Muitos parabéns! :D Está qualquer coisa de espectacular e muito engraçado mesmo.

Sonia, Filipe, Guilherme e Santiago disse...

Genial....és genial :)

Unknown disse...

Uma delícia! lol

Gi disse...

Oh Génio da Garrafa ... já lá vão 2 semanas e ainda não voltaste!!!! Ficaste com prisão de (baixo) ventre? ;)

Denise disse...

Hydra-hilariante!

W. C. Fields disse...

Versão Rocky Balbino

"Isto de andar de moto tem os seus inconvenientes. Um gajo está no trânsito, e em certos sítios é difícil parar para mijar. Vai daí, disfarçadamente, enfiei um garrafita de chá Lipton nas calças a cá vai disto. Estava frio, de modo que a sensação foi benfazeja. Acho que inventei o aquecimento central para motociclistas."

mitro disse...

Gostei do exercício!
Muito bem.