segunda-feira, março 30, 2009

O pintor e o anormal

Hoje um pintor veio cá a casa...ainda o dia não tinha raiado propriamente, já o tipo me tocava à campaínha com um ânimo facial tal de limpar à estalada, tamanha era a minha má disposição!...

Veio retocar a tinta branca um segmento por cima das persianas que a alguém normal não faria a mínima confusão....mas que a mim assumia proporções épicas de cada vez que o encarava....
Era apenas um retoque...mas com o meu opinar e óptica perfeccionistas e pedidos exageradamente normais, transformou-se na Capela Sistina para este infortunado artista...

Tanto que o pobre pintor, numa tentativa de disfarçar o tal segmento de acordo com meu pedido, viu-se na intenção de ir lá fora buscar um material especial à carrinha para finalizar o retoque...e sempre com um sorriso sincero e explícito em aberta simpatia...

Pois é aqui...que tudo começa....!

Concomitante à saída do pintor, reparo no balde de tinta branca que este tinha deixado para trás...olhei-o de soslaio e levantei o sobrolho... pensei então, que se calhar devia tirar um niquinho para eu próprio poder retocar aqui uma porta de casa ao meu belo gosto...retoque esse, também mínimo, mas altamente implicativo na minha psique.

Rapidamente, sondei a casa à procura de algo onde poder armazenar tinta...e tudo em pressa redobrada, não fosse o homem voltar a qualquer momento...abri gavetas, portas de armário, uma mala...e nada...nada nesta porra desta casa servia o intuito! Lá achei uma caixa de plástico, perdida atrás de uns cântaros do Crescente Fértil (ironia!)...e usei a parte de baixo da caixa, que meti ousadamente no balde e scooped out o equivalente a 3 colheres de sopa de tinta....

Tudo isto numa aflição desmedida, não fosse apanhado no acto...mal feito fora o caraças do destino, quando na acção de retirar o saque do balde, a tinta entorna-me sobre a mão direita....corro para a casa de banho e imbuído pela atribulação entorno ainda mais tinta sobre a mão esquerda...e copiosamente sobre o lavatório...

Cerro os dentes de raiva e invoco a genitália da prima...pouso a caixa em cima de papel higiénico arrancado à pressa para servir de base no retrocesso do lavatório...e começo a esfregar uma mão na outra debaixo de água quente....nisto reparo que a tinta, adquire uma consistência gordurosa...e espalha-se em arrastar pelas mãos em vez de sair com o lavar....
Neste momento, até parece que tenho luvas calçadas...

O terror de que o pintor chegue e assista a tudo isto, enerva-me ao fastígio....e o terror acerca-me Helveticamente....Tento acalmar-me, passo a mão direita pela franja para me compor...abro o armário e arranco com uma foice tudo o que é solvente de lá de dentro...esfrego as mãos com álcool, com água oxigenada...nada resulta...a tinta espessa a cada momento que passa...mordo o lábio de raiva...não há DMF, acetonitrilo, isopropanol...mas que raio de químico sou eu....

Ouço a porta da rua bater...o meu coração dá um baque...o pintor entra sorridente e a assobiar para o quarto....eu fecho a porta do armário da casa de banho e reparo com aflição que tenho uma mega madeixa branca de fazer inveja à Cruella de Vil...estarreço de desespero...
Corro da casa de banho e vou apagar as luzes todas que estão acesas...e baixar as persianas das outras divisões....

Sento-me de perna cruzada na penumbra da sala, testa meio combalida...e mãos nos bolsos...no coração o clangor do pânico....

O pintor assoma do quarto....e encara com suspeição o meu olhar cintilante no escuro da divisão....para de assobiar...e sinto-lhe desconfiança no semblante....
Indica-me que acabou o serviço...e pergunta-me se quero confirmar....
Respondo com um "pas de problème!" e abano o cabelo à lá pantene...

Ele, caminha para a porta, e faz-me sinal para eu o seguir, e acompanhar....
Do meio do escuro, qual padrinho e sem gato, faço um gesto displicente ligeiro, desejo-lhe um bom dia e agradeço-lhe a estafa....

Ele ainda olha para trás enquanto fecha a porta....e encara o meu sorriso brilhante no bréu da sala...sabe Deus o que lhe terá passado pela cabeça....

Quando me senti seguro, vesti o casaco, escondi as mãos nos bolsos e corri para o emprego....
Oblívio ao mais óbvio que me mascarava, fiz o percurso até chegar e assentar arraiais....
Pergunta-me o que se passa, o meu chefe quando me vê despojar do casaco...

Quando me apercebo que com tal ele se referia à madeixa branca no meu frontispício....
Respondo com uma lágrima envergonhada"São dálmatas meu Senhor...são Dálmatas!!!!!"....

PS- Quando cheguei a casa a pouca tinta na caixa tinha secado completamente...e aqui estou eu a teclar de mãozinhas alvas e cândidas...como um anjinho quiral....E para citar uma pessoa do meu passado...."E em vão lutam os Deuses, contra a estupidez Humana!"....

15 Reacções:

Kapitão Kaus disse...

Oh my Hydra-Friend:(
Como eu estou a visualizar o teu desespero! Isso é que foi azar! Rais parta o pintor! Mas porque é que ele não usou tinta de água? É que essa sai com água!...

E agora?
Estás melhor?
Conseguiste resolver essa situação? (Cá para mim, terias que ter usado um solvente qualquer para retirar essa tinta)

Oh homem, quando precisares de ajuda desse género, diz-me que eu, pelo menos, não tenho o hábito de entornar a tinta.

Ânimo, que amanhã é outro dia!
E a pintura, que tal ficou?

Ag:)
KKF

Kapitão Kaus disse...

A pergunta é referente à pintura do segmento por cima das persianas, claro!

Daniel C.da Silva disse...

Oix, eis que (re)apareces ;)

Para não vires dizer daqui a uns dias que vais bater porque ninguém teve a caridade de te avisar de um petit "error" (mixagem franco-saxonica) ;) aqui fica:

"Oblívio ao mais óbvio que me mscarava, fiz o precurso até chegar e assentar arraiais...."

* percurso *

****

Em relação ao texto em si, és mesmo assim tao corrosivo? lol. Ou dierri antes és assim ato simples? ;););) Bem, aquilo ja parecia um argumento para um filme do Alfred Hitchcock.

Um abraço grande :)

Angelo disse...

O que me estou a rir! Mesmo estando atrasado para ir trabalhar, tinha que acabar de ler mais uma das tuas aventuras!!!

Não sei se alguma vez te tinha dito isto, MAS TU NÃO ÉS NORMAL!!!!!!!!

Daniel C.da Silva disse...

Hydra, tenho de repostar porque a minha velocidade de teclado é tanta que depois fica meio imperceptivel o que escrevi, como no final "dierri" quando quro dizer "direi" etc ;) aqui fica:


Oix, eis que (re)apareces ;)

Para não vires dizer daqui a uns dias que vais bater porque ninguém teve a caridade de te avisar de um petit "error" (mixagem franco-saxonica) ;) aqui fica:

"Oblívio ao mais óbvio que me mscarava, fiz o precurso até chegar e assentar arraiais...."

* percurso *

****

Em relação ao texto em si, és mesmo assim tao corrosivo? lol. Ou direi antes és assim tão simples? ;););) Bem, aquilo ja parecia um argumento para um filme do Alfred Hitchcock.

Um abraço grande :)

Unknown disse...

Mas eu já me ri tanto!!!Mas eu já me ri tanto!!!MAS EU N CONSIGO SEQUER PARAR DE RIR!!!!!!!!!!!

Rita disse...

Hydra Querido,
A tua vida têm episódios que dariam para um filme do Jerry Lewis...
Jokas

Anónimo disse...

Só tu, mesmo!! Hehehehe

João Roque disse...

"Senhor...são Dálmatas!!!!!!"
Divinal!
Abraço, meu caro...só quem não te conheça, eheheheh...e parece que há...

Luís P. disse...

O Mr. Bean não faria melhor!!! E o "Senhor...são Dálmatas!!!" tem o seu quê de milagre, de Rainha Santa Isabel revisitada e reactualizada... Qual falta de lítio quam quê... no mínimo, excesso!!!:D

Abraço

Maga disse...

mas que tinta era essa afinal? olha que me saíste cá um larápio...
já devias saber que o crime não compensa... ihihih
e que história é essa dos dálmatas?
beijinhos!

João disse...

O primito.
O crime não compensa mesmo né :).
Só tu para me fazeres largar umas valentes gargalhadas em frente ao PC ;)

PrimaNocte disse...

Hidra-friend! Muito Obrigado!

Abraço.

mik@ disse...

aih master tu és demais! mas quem te manda meter as maos onde nao es chamado. pra proxima compras umas luvas, uma latinha de tinta, um pincel e dissolvente pra tirar tinta e depois podes dedicar-te à pintura.
beijocas e porta-te bem

Veruska disse...

Lá está, Deus castiga! :)